Manifesto da R.A.M.A. - Por um novo modo de nascer

Escrito em 26 de Fevereiro 2011

Elaborado por membros fundadores da R.A.M.A.:

 Sueli Freitas (Parteira), Regine Marton (Enfermeira Obstetra, Doula e Parteira),
Bia Barbalho (Doula)

O Brasil continua enfrentando um grave problema de saúde pública - índices altos de mortalidade materna-infantil - que são em grande parte causados por causas evitáveis, como medicalização intensa dos partos, cesáreas desnecessárias, excesso de intervenções médicas por imposição da conveniência dos profissionais e dos serviços de saúde, violência institucional durante os partos, etc.

O cenário que a mulher enfrenta nas maternidades causa uma grande angústia, pois de protagonista ativa vai para vítima incapaz de escolha. São as temidas salas de pré-parto e parto - a mulher sozinha num espaço exíguo, muitas vezes lotado e sem privacidade; ela sofre e grita de pavor. Este funciona como uma etapa da linha de produção dos hospitais, que opera com regras redigidas para a racionalidade de trabalho hospitalar (LANSKY, S.).


VIOLÊNCIA INSTITUCIONALIZADA

De acordo com um artigo publicado na folha de São Paulo dia 24/2/2011, baseado num estudo realizado pela fundação Perseu Abramo e o SESC em 2010, em 25 estados da federação e 176 municípios do pais, constatou-se que: Uma em quatro mulheres entrevistadas, ou seja, 25% delas que tiveram coragem de expressar declaram ter sofrido violência durante o atendimento ao parto, tanto nas maternidades públicas (27%) quanto particulares (17%).

Definição dos Tipos de Violência Relatados na Pesquisa:
MISSÃO DA R.A.M.A.:
Diante desse quadro desumano e acreditando no parto como um momento da mulher, um grupo de mulheres, conscientes, experientes, protagonistas do seu parto, profissionais de longa e reconhecida trajetória na área materna-infantil e de ativismo internacional, etc., se reuniu no ventre da Escultura “Casa Mãe Terra”, no Parque das Dunas, Natal-RN, e se comprometeram a: semear, apoiar, cumprir e resgatar a dignidade do bem nascer, refazendo pacto com a Mãe Natureza e tomando como referência ética a dignidade do nascimento e do parto respeitado, se apoiando na Iniciativa dos 10 passos para a utilização dos serviços de Maternidade Mãe-Bebê elaborado pela ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA O NASCIMENTO MÃE-BEBÉ e as Recomendações da OMS para o parto humanizado.
Assim, a R.A.M.A. surge da vontade dessas mulheres em fortalecer e difundir um novo nascer na cidade de Natal. O nome da Rede é uma chamado à todas as mulheres para que se empoderem novamente do momento do parto e deixem brotar em seus corações a R.A.M.A de amor pelo seu corpo, seu ventre e sua força de fêmea. Das letras que compõem o nome do coletivo, podemos refletir:

R:  Rede de conexão, a Redescoberta, o Renascimento de mulheres ajudando outras mulheres na hora do parto, gravidez e amamentação. Redescoberta da potência feminina que dá a vida à outro, geradora de vida.
A: Apoio as escolhas feitas pelas mães durante o pré-parto e parto, que são baseadas em suas histórias de vida. Acreditando no Sagrado que nos habita, Apoio à fêmea que urge em brotar e agir instintivamente.
M: Maternidade momento sublime, empoderador, transformador, encarando e vencendo a Morte.
A: Ativando as forças profundas da natureza que existe em todas nós, conceito do parto ativo: protagonista ativa (Janet Balaskas). O conceito de parto ativo foi introduzido por mulheres que querem ter de volta o controle e a responsabilidade do parto, mulheres que considerem as instituições médicas como recursos às situações definidas.
Parto ativo é uma atitude mental que envolve aceitação e crença na função natural, e na natureza involuntária do parto, tanto quanto uma atitude e posicionamento apropriado do seu corpo.

Ramifições do inconsciente coletivo
Rama, o herói do Ramáiana, é uma divinidade popular adorada pelos hindus, sendo a rota de sua viagem a cada ano percorrida por peregrinos devotos. O poema não é um mero monumento literário, é uma parte do hinduísmo, e é tido em tal reverência que o mero ato de lê-lo ou ouvir é dito pelos hindus de libertá-los do pecado e garantir todos os desejos do leitor ou ouvinte. De acordo com a tradição hindu, Rama é uma encarnação (Avatar), do deus Visnu, que é parte da Trindade hindu. O principal propósito da sua encarnação é demonstrar o caminho correto (dharma) à vida na terra.

PROPOSTAS DE AÇÕES DA R.A.M.A.:
1.       Formação de Grupos e Centros de documentação, informação ao consumidor e pesquisa;
2.       Rodas de gestantes nos centros de saúde;
3.       WEB Page, blog informativo sobre as atividades do RAMA, artigos, depoimentos;
4.       Programas em rádios comunitárias, esclarecimento sobre parto e em geral sobre saúde reprodutiva;
5.       Dramatizações nas ruas, em escolas, universidades, sobre direitos reprodutivos (estratégia BOAL);
6.       Produção de cartilha de direitos da Parturiente e distribuir nos PSFs (ver o artigo: A iniciativa internacional pelo nascimento Mãe Bebê: Uma abordagem de um atendimento materno eficiente à luz dos direitos humanos);
7.       Cadastramento e reciclagem de parteiras tradicionais;
8.       Participação do Comitê de Mortalidade Maternal;
9.       Criação do SELO “Maternidade sem Violência” com um estudo da satisfação da usuária por ouvidoras voluntárias..
10.    Apresentar projetos pra prefeitura de Natal (Rio Grande do Norte) e outros parceiros e captar recursos para criação destes.


ANEXOS:
-MATERNIDADE MÃE-BEBÉ
UMA INICIATIVA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA O NASCIMENTO MÃE-BEBÉ
(IMBCO – INTERNATIONAL MOTHERBABY CHILDBIRTH ORGANIZATION)

-RESUMO DOS 10 PASSOS DA IMBCI
Um ótimo serviço de maternidade Mãe-Bebê tem políticas escritas, implementadas ao nível da formação e das práticas, nos quais se exige que os prestadores de cuidados sigam os seguintes passos:
PASSO 1 Tratar cada mulher com respeito e dignidade.
PASSO 2 Possuir e pôr em prática, como norma, conhecimentos e técnicas de assistência ao parto que otimizem a fisiologia normal do parto e da amamentação.
PASSO 3 Informar a mãe dos benefícios de um apoio contínuo durante o trabalho de parto e o parto e defender o seu direito a receber esse apoio por parte dos acompanhantes da sua livre escolha.
PASSO 4 Proporcionar métodos não farmacológicos de conforto e alívio da dor, explicando os seus benefícios para facilitar um parto normal.
PASSO 5 Proporcionar práticas baseadas na evidência científica comprovadamente benéficas.
PASSO 6 Evitar o uso de procedimentos e práticas potencialmente prejudiciais.
PASSO 7 Implementar medidas que venham a proporcionar bem-estar e evitar doenças e emergências.
PASSO 8 Proporcionar o acesso a tratamentos de emergência de qualidade, baseados na evidência científica.
PASSO 9 Proporcionar o acesso a um cuidado continuado em colaboração com todos os profissionais, as
instituições e as organizações relevantes.
PASSO 10 Aplicar as 10 medidas para se tornar um Hospital Amigo dos Bebês.

-RECOMENDAÇÕES DA OMS (Organização Mundial de Saúde) NO ATENDIMENTO AO PARTO NATURAL:

REFERÊNCIAS:
-A iniciativa internacional pelo nascimento MãeBebê: Uma abordagem de um atendimento materno eficiente à luz dos direitos humanos documento PDF imbci.org
- Por um novo modo de nascer no Brasil:  Sonia Lansky, pediatra, doutora em saúde pública (UFMG) e supervisora do Plano de Qualificação das Maternidades e Redes Perinatais da Amazônia Legal e Nordeste


                                                            














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