27 de abr. de 2012

Participação da R.A.M.A. em Audiência no MPF

Aconteceu no dia 23.04.2012 uma audiência no Ministério Público Federal com a intenção de ouvir a população, e a Rede de Apoio a Maternidade Ativa (RAMA) se fez presente pelas fortes vozes de Rosário Bezerra e Regine Marton. As mesmas apresentaram aos Procuradores Federais um relatório-denúncia, escrito com ajuda também de Bia Barbalho, que apontava três eixos dentro da assistência obstétrica brasileira:

1. Excesso de cesáreas
2. Descumprimento da lei do acompanhante
3. Violência obstétrica

Para nossa grata surpresa, a exposição foi bem aceita, para não dizer aclamada pela plenária. Os procuradores demonstraram grande interesse em se aprofundar na problemática, inclusive, lendo o relatório-denúncia mesmo ao fim da exposição.

A única resposta imediata dada foi a respeito da lei do acompanhante. Segundo um dos procuradores, a Maternidade-Escola Januário Cicco já foi convidada para dar explicações sobre o porque do descumprimento, onde apontou a dificuldade para a aceitação de parte dos médicos em admitir a presença do acompanhante. Diante da resposta, o procurador solicitou que os obstetras descumpridores da lei prestassem esclarecimentos junto ao MPF.

O relatório-denúncia foi entregue como representação a ser protocolada e estudada por um Procurador. Estamos esperando o nome do Procurador a quem será atribuído a nossa representação pra poder entrar em contato e  continuar o diálogo.

Em suma: o saldo da nossa audiência foi bastante positivo, mas é preciso muito mais para avançar e alcançar resultados de qualidade na nossa obstetrícia!

Para ler o relatório-denúncia apresentado pela R.A.M.A. na audiência, acessem: 



23 de abr. de 2012

Tecendo Fios Sobre Parto - Parte 1

Falar sobre parto não é algo trivial, e até me considero ousada em entrar nesta empreitada! Parto não é sempre preto e branco, muito menos linear, passível de previsões certeiras e mecanismos de controle. Aliás, controle e parto não combinam. Parto tem mais haver com largar o controle e deixar a vida fluir dentro e através do corpo, que é sábio e  sabe por onde seguir. Parto tem haver com unicidade e pluralidade, entendendo que mesmo sendo fêmeas dotadas de poder para parir pela vagina, somos também indivíduos com histórias específicas, que muito influenciam na nossa relação com o mundo e crenças sobre nós mesmas. 


Por isto o momento do parto pode ser complexo e simples ao mesmo tempo, o quê tende  a confundir e amendrontar muitos, pois tem haver também com auto-confiança e aceitação do que é. Por isto que, nos dias de hoje, preparar-se é tão importante, pois existem muitas facetas que compõem este momento sublime: o grande rito de passagem, uma iniciação da mulher em sua maturidade, permitindo deixar o ser filha de lado para iniciar o ser mãe. Não se nasce sabendo ser mãe, muito menos se sabe ser mãe ao ter um filho; aprende-se sendo na prática, nos erros e nos acertos, no riso e no choro, e talvez, ainda assim, não se aprenda de fato. Mas se nasce sabendo parir pela vagina: carregamos no corpo as memórias de nossas antepassadas, desde os primórdios dos tempos, os gritos de dor e as lágrimas de alegria. O útero é a matriz da vida. Ele a recebe, a gesta e a coloca no mundo. Assim como a Natureza que planta sementes e pari frutos, somos também dotadas do mesma sabedoria primal.

Arraigados de vários elementos, o parto é em sua simplicidade guiado por mecanismos hormonais, que desencadeiam processos físicos, assim como é no momento da concepção. Em primeira análise, é o parto um momento puramente sexual. Se for permitido a mulher se sentir segura e protegida, os mecanismos internos iniciarão sua dança sublime até o momento do ápice. Mas, caso isto não aconteça, assim como os bichos, quando amedrontados, nós também temos os nossas defesas para com o externo. 


Há também as questões emocionais que envolvem cada indivíduo e o fazem ser o que são. São suas memórias e histórias de vida, traumas, dores, alegrias, e tudo o mais que é passível de ser sentido e codificado dentro do mais profundo de nossas psiques. No momento do parto ficamos mais perto de nossas sombras, e também de nossa força. Aquilo que está no mais profundo do ser é colocado frente á frente com nós mesmas, e seguir adiante, confiante, é o grande ato transformador!


No exato momento que o véu entre os dois mundos se torna fino, um portal se abre e a mulher que está parindo torna-se canal entre o mundo de cá e o mundo do além. É a morte e o renascer de uma mulher, junto com o nascer de uma nova vida! O parto é um momento fortemente espiritual, onde a criação está sendo re-inventada e ressignificada a partir do universo feminino. A mulher que é respeitada durante este momento, não resiste à morte e volta nova, curada. A mulher que é desrespeitada neste momento, morre e renasce com algumas cicatrizes e traumas. 


Tecendo Fios Sobre Parto segue em outros posts, onde mais fios acerca do grande rito de passagem Físico, Emocional e Espiritual serão adicionados à esta trama.


 


Amor,


Bia Barbalho - Doula da R.A.M.A.


16 de abr. de 2012

Parir é o Ato Maior da Liberdade

Por Rosário Bezerra (Mãe, Fonoudióloga e Doula da R.A.M.A.)


“Parir é o ato maior da liberdade. A expansão da vida para além do espiritual e científico. Feminino DEMAIS!” (Waleska Nunes)

Não é coisa de outro mundo. Mas é uma experiência linda, limpa, transformadora. É o início de uma vida. É a força feminina desabrochando no nascimento de uma criança.
Parto domiciliar não é sinônimo de parto desassistido. No Brasil, o número de profissionais preparados e dispostos a dar assistência à parturiente e ao bebê no âmbito domiciliar ainda é reduzido. A maioria dos nascimentos ocorre nos hospitais, permeados pelo “melhor” do modelo tecnocrático que objetiva “salvar vidas” (só não se sabe ao certo do quê). Conhecem aquela velha história de dar o veneno para oferecer o remédio em seguida? Então!

O que eu posso garantir é que o medo irracional que tanto nos persegue em relação a possíveis complicações durante um trabalho de parto (numa gestação de baixo risco) é totalmente infundado. Hospital não é, nem nunca foi garantia de segurança total e absoluta. O hospital reserva, ou ao menos deveria reservar, seu espaço às necessidades reais de intervenções. Para melhor pontuar a afirmação acima, podemos citar que é crescente o investimento do setor público e privado em programas de assistência domiciliar. Home-cares, programas de gerenciamento de casos que tratam de idosos, adultos e crianças com doenças crônico-degenerativas em seu próprio domicílio. Um dos principais objetivos desses programas é prevenir os agravos advindos da exposição aos complicadores que só um hospital oferece.

Desta forma, é lógico entender que protocolos hospitalares raramente contemplam ações favoráveis pra encarar a chegada de um bebê saudável em um parto fisiológico e natural. Procedimentos como episiotomia, amniotomia, kristeller, analgesia, aplicados sistematicamente em todas as mulheres internadas, trazem mais riscos do que benefícios e é praticamente impossível fugir deste pacote. Sem esquecer-se da privação imposta aos primeiros momentos de vida do bebê que sofre pela aspiração de vias áreas de rotina, pelo clampeamento precoce do cordão, pela separação imediata do contato mãe-bebê nas primeiras horas de vida, pelo nitrato de prata nos olhos, pela complementação alimentar com fórmula infantil sem conhecimento e consentimento materno e por aí vai.

Um detalhe veemente ignorado é o de que temos, ao nosso pleno favor, profissionais capacitados a acompanhar e intervir (se necessário) durante o trabalho de parto e parto. Parteiras, obstetras e enfermeiras-obstetras que se qualificam constantemente, garantindo uma assistência segura e cientificamente embasada.

E lamentavelmente, não só as parturientes encontram dificuldades na hora de optar pelo parto domiciliar. Os profissionais citados, que compreendem a fundo a questão da humanização, não conseguem espaço para atuar com liberdade e de acordo com as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde e OMS. Estes órgãos citam, como fundamentais à boa assistência obstétrica, a importância de se respeitar a mulher na decisão do local de seu parto e agir com o mínimo de intervenção possível. Contudo, são tantos os mitos infundados e enraizados na sociedade que não se permite enxergar o “parir feminino” além do modelo hospitalocêntrico e centrado na figura médica. Abaixo, trago uma pequena amostra destes mitos e, em paralelo, as suas respectivas desmistificações escritas pela obstetriz Ana Cristina Duarte:

Mitos do Parto em Casa I: a parteira chega a cavalo ou de bicicleta, e a tiracolo uma bolsa com 3 panos lavados e um livro de rezas.

Verdade: o material que vai no carro do profissional inclui oxigênio, máscara, ambu, material de sutura, anestésico local, instrumentos esterilizados, drogas para contenção hemorrágica, luvas estéreis e outros 20 itens.

Mitos do Parto em Casa II: a parteira é uma senhora boa e rezadeira de 70 anos, que aprendeu o ofício com sua mãe.

Verdade: o profissional que atende parto domiciliar é médico, ou enfermeira obstetra, ou obstetriz, formados em cursos superiores e com experiência em atendimento de partos normais, com e sem complicações.

Mitos do Parto em Casa III: A ideia é nascer em casa custe o que custar, então se complicar, complicou, paciência.

Verdade: o parto começa em casa, mas acaba onde tiver que acabar. Se houver algum sinal de que talvez o parto possa vir a complicar, já é feita a remoção para o hospital.

Mitos do Parto em Casa IV: nos países da Europa onde existe o parto em casa, há uma ambulância na porta de cada mulher que está em trabalho de parto.

Verdade: PUTZ!!! Essa é a maior de todas as mentironas do século XXI! Não existe ambulância na porta em nenhum lugar do mundo!

Mitos do Parto em Casa V: Qualquer mulher pode conseguir um parto em casa.

Verdade: Mulheres que desenvolveram complicações não poderão ter um parto em casa, porque os riscos são aumentados.

Mitos do Parto em Casa VI: Se o bebê precisar de alguma coisa, ele vai morrer.

Verdade: Todo o material que tem para ajudar um bebê num hospital também está presente no parto em casa. Só não será possível fazer assistência a longo prazo pela falta de equipamento adequado.

Mitos do Parto em Casa VII: Se a mulher "rasgar" ficará aberta para sempre, amém.

Verdade: O profissional tem todo o material para reparação de lacerações, do anestésico aos fios especiais de alta absorção.

Mitos do Parto em Casa VIII: Um parto de baixo risco vira de alto risco de uma hora para outra.

Verdade: Menos de 1% das complicações acontecem de uma hora para outra. A maioria são longas evoluções de horas e horas, até se configurar uma mudança de faixa de risco.

Mitos do Parto em Casa IX: depois do parto fica a sujeira para a família limpar.

Verdade: Faz parte do atendimento do parto a limpeza completa de todo o ambiente onde o bebê nascer, a retirada dos vestígios de sangue, e a arrumação.

Mitos do Parto em Casa X: O parto em casa está proibido ou os médicos estão proibidos de atender parto em casa.

Verdade: Nâo existe qualquer proibição. O Conselho de medicina de SP publicou uma matéria de jornal interno dizendo que não aconselha. Isso não é proibição. O conselho tem todas as ferramentas legais para proibir, mas não o fez.

Mitos do Parto em Casa XI: Há grande risco de contaminação, pois não é possível esterilizar a casa.

Verdade: primeiro que o hospital não é esterilizado, pelo contrário, está cheio de bactérias resistentes. Segundo, que o parto normal não ocorre em local estéril em qualquer lugar do planeta.

Mitos do Parto em Casa XII: O bebê tem que ficar em observação depois que nasce, por isso precisa de enfermeiros no hospital.

Verdade: O bebê fica em observação pela equipe após o nascimento e tal qual no hospital ficará em alojamento conjunto com a mãe, recebendo as visitas diárias até a "alta".


Acrescento ainda, alguns estudos que apontam para segurança do parto domiciliar planejado:
Artigo  1:
Artigo 2:

Os avanços da medicina intervencionista foram desenvolvidos para ajudar mulheres e crianças com evolução desfavorável durante o trabalho de parto e jamais deveriam ser aplicados sistematicamente em todas as gestantes de baixo risco. Da maneira que é feito, ao invés de garantir a atenuação das complicações nos partos difíceis, provocou complicações evitáveis. Iatrogenia pura. O pior de tudo é ver um sem número de mulheres totalmente desacreditadas no processo natural chamado gestação. Imaginam seus corpos como bombas-relógios, prestes a causar verdadeiros cataclismos contra o concepto. E fica a pergunta: qual o sentido de tanto terrorismo?

Neste momento, queremos abrir uma ampla discussão com a sociedade para que as gestantes tenham assegurado o direito de escolher, de forma consciente e informada, o local do seu parto. Para isto, um grupo de profissionais humanizados organizou uma petição pública no intuito de promover um debate cientificamente embasado sobre o direito de escolha. (link para petição: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=petparto).

Faz-se mister esclarecer que o movimento de apoio ao parto humanizado não condena ou é contra o parto normal hospitalar.  A nossa luta é contra a cultura do medo e de escolhas baseadas em achismos, contra o absurdo número de cesarianas sem indicação clínica, contra a medicalização indiscriminada na hora do parto, contra a violência obstétrica e institucional sofridas pela parturiente e contra tantos outros abusos praticados por uma medicina meramente curativa, retrógrada, e insensível que mostra estar despreparada para atender e entender as necessidades de uma mulher durante a mais intensa e recompensadora vivência do seu sagrado feminino.
Rosário em seu momento transformador

A Arte de Nascer

O nascimento é uma operação simples nos países com menores taxas de mortalidade e de complicações pós-parto, como Japão, Holanda, Inglaterra e Suécia. Já o Brasil sofre excesso de medicalização: as maternidades privadas parecem hotéis ou empresas. São raros os obstetras que "permitem" à mulher assumir a posição que quiser para dar à luz.

por Ieda Estergilda de Abreu


Ter filhos sem intervenções, com poucos medicamentos, sem anestesia ou cortes na região perineal, a grande maioria das mulheres, sem dúvida, consegue. Ao longo da história foi assim. Gravuras antigas mostram mulheres ajoelhadas, de cócoras ou em banquinhos baixos, com as costas na posição vertical. Até o começo do século passado, muitas preferiam a assistência da parteira, tida como mais segura e conveniente. O parto horizontal foi introduzido sob a influência da escola obstétrica francesa, liderada por François Mauriceau. Desde que ele passou a ser hospitalar, feito somente pelos médicos, as opções foram restringidas a parto natural ou cesariana, a verticalização foi substituída pela posição ginecológica e o corte embaixo passou a ser realizado sem questionamentos.

A simplificação desse atendimento começou na Europa e nos Estados Unidos e veio para o Brasil nos anos 1950. Hoje, 80% dos partos realizados nas maternidades particulares e 27% dos realizados nas maternidades públicas são cesáreas, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de não ultrapassar a taxa dos 15%.
Mas, mesmo com toda a tecnologia dos hospitais, a cesárea ainda é considerada uma intervenção de risco. Não é à toa que existe um movimento pela retomada do parto natural promovido por obstetras preocupados com o excesso de medicalização e por grupos de mulheres que reivindicam melhores condições para ter seus bebês.
“Quando bem utilizada, a tecnologia reduz efetivamente a morte de mães de bebês, mas o excesso de intervenções acaba gerando mais malefícios que benefícios”, diz a médica epidemiologista Daphne Ratter, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, que alerta para a ocorrência de uma inversão. “Quando se ultrapassa e se começa a utilizar uma tecnologia indicada para casos de risco em pessoas que não têm risco nenhum, o mais provável é que se induza ao surgimento de um problema onde ele não existia.”
Na verdade, há várias técnicas graduais de parto amigável e participativo para mulheres que desejam compartilhar o nascimento dos seus filhos.

Leboyer | O obstetra Frédérick Leboyer, ainda ativo na França, foi um dos pioneiros na defesa de uma forma menos violenta de nascer e da importância do vínculo mãe-filho no parto. Introduzido no Brasil em 1974 pelo médico Claudio Basbaum, do Hospital São Luiz, em São Paulo, o parto Leboyer é feito com pouca luz, muito silêncio e massagem nas costas do bebê, que não recebe a famosa palmada “para abrir os pulmões”. Além disso, o primeiro banho é feito próximo à mãe e a amamentação precoce é estimulada. O foco é o recém-nascido.
Nesse tipo de parto, a mulher continua deitada de costas, com as pernas apoiadas em estribos, e é realizada a episiotomia, uma incisão no períneo (a região muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal do parto, em geral com anestesia local.

De cócoras | Sob o foco da liberdade de movimentos para as mulheres, o parto de cócoras ou ativo é bem aceito. Mais rápido, dado o auxílio da gravidade, é mais saudável para o bebê e evita a compressão de importantes vasos sanguíneos, o que acontece com a mulher deitada de costas. Agachada, ela pode se apoiar nos ombros e nos braços do companheiro, que exerce papel decisivo tanto físico quanto psicológico.
A técnica é indicada para mulheres que tiveram gravidez saudável, sem problemas de pressão e também se o feto estiver na posição cefálica correta (com a cabeça para baixo). O médico curitibano Moysés Paciornik (1914-2008) promoveu essa modalidade no Brasil inspirado nas índias da tribo caingangue. Juntamente com seu filho, Cláudio Paciornik, inventou uma cadeira para ser usada em hospitais que permite várias posições para a mãe.
Em Londres (Inglaterra), a educadora perinatal Janet Balaskas lidera um movimento pelo parto ativo trabalhando com gestantes em aulas de ioga. Após anos de prática, ela observa que depois da preparação física e psicológica raramente ocorrem depressões pós-parto, problemas com a amamentação ou com a recuperação da parturiente. Para Janet, a grávida tem de esquecer o calendário de papel e se concentrar no calendário do seu corpo.
Protagonismo | Para o Ministério da Saúde, “parto humanizado” significa o direito de toda gestante passar por pelo menos seis consultas de exame pré-natal e ter seu lugar garantido em um hospital na hora do parto.
Para a Rede Brasileira pela Humanização do Nascimento e ONGs como Parto do Princípio (São Paulo, SP), Bem Nascer (Belo Horizonte, MG) e Despertar do Parto (Ribeirão Preto, SP), trata-se de devolver à mulher o protagonismo do parto, “fortalecendo a capacidade de parir”, enfatiza a médica Daphne Ratter. Os defensores do movimento entendem a gestação e o parto como eventos fisiológicos perfeitos, nos quais apenas 15% a 20% das gestantes apresentam problemas, necessitando de cuidados especiais. Cabe ao médico acompanhar, interferindo em caso de real necessidade.
Na água | “Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer”, diz o obstetra francês Michel Odent, teórico do parto humanizado. Precursor do home-birth (parto domiciliar) e do parto na água, praticado em banheiras especiais ou improvisadas, o obstetra introduziu a utilização das piscinas aquecidas nas maternidades, permitindo que as mulheres parissem acompanhadas.
Estudos científicos comprovam que o uso da água quente combate a tensão e a dor e ajuda na dilatação do colo do útero. O bebê nasce de forma mais suave e o períneo da mãe ganha maior flexibilidade. Segundo Odent, durante o processo de parto, tanto a mãe como o bebê atingem taxas hormonais específicas ao mesmo tempo. Todos esses hormônios, antes de serem eliminados, têm uma função muito particular imediatamente à primeira hora após o nascimento. Esse início de vida é o momento chave, o que acontece pode vincular bem a mãe ao bebê, ou não.
Natural, sem dor | Com a popularização das questões ecológicas e a retomada de uma vida mais saudável e espiritualizada, muitas mulheres passaram a optar pelo parto natural. Quase idêntico ao normal, ele dispensa intervenções como anestesia e indução. O médico apenas acompanha a movimentação da mulher, no hospital ou em casa.
O parto normal é a forma convencional de dar à luz, mas não precisa ser doloroso. Anestesias como a peridural e a raquidiana aliviam as dores sem impedir que a mãe participe. A anestesia bloqueia a dor, mas também diminui as sensações das pernas e do assoalho pélvico, responsáveis pela força que a mulher faz na hora de “empurrar” o bebê. Comparado com a cesariana, o parto natural evita complicações como hematomas, dores pélvicas e infecções e diminui muito o tempo da recuperação.
Parto sem dor é um termo que remete aos métodos psicoprofiláticos (que usam a palavra como anestesia). Eles propõem treinamento preparatório às gestantes, baseado em técnicas respiratórias, de relaxamento e de concentração. Um dos mais conhecidos é o Lamaze, que surgiu na Rússia e foi difundido por todo o mundo pelo médico francês Fernand Lamaze.
Não há dúvida de que uma mulher bem preparada e bem acompanhada durante todo o processo, entendendo o mecanismo simples do nascimento, pode ter muito menos dor do que uma mulher assustada e tensa.

MULHERES TÊM FORÇA
A índia shawãnaua Francisca das Chagas, 59 anos, mora no vale do Juruá, no Acre, e é parteira tradicional. Desde 2006 ela vem a São Paulo divulgar seu trabalho e experiências e realizar partos. Com 11 filhos e 10 netos, todos nascidos sob suas mãos, Francisca aprendeu com os pais e os avós o ofício de ajudar a nascer, junto com o preparo e o uso medicinal das plantas da floresta amazônica.
Começou com 15 anos, na aldeia, fazendo o parto da cunhada. Desde então, trabalha para melhorar a saúde e a qualidade de vida das gestantes e dos membros da comunidade.
Enquanto faz massagens na barriga das parturientes, ajeitando o nenê, Franscisca conversa com ele: ”Você ajude a sua mãe para ela ter um parto feliz e você ser feliz também.”
Francisca explica que no parto de cócoras, com o marido segurando por trás, “o nenê desce mais rápido, não é como a mulher deitada na maca do hospital.”Nessa posição, quando dizem para ela fazer força, em vez de a força ser para baixo, é para cima. O médico diz que ela não tem força e aí corta, mas ela tem força, sim. Só não está na posição correta.”
Durante a gestação, a parteira receita banhos de assento feitos com folhas do algodão roxo e de capeba, que a mãe deve tomar até entrar em trabalho de parto, para ajudar na dilatação do útero. A partir do sétimo mês, ela também deve começar a tomar florais, como o da vitória-régia, que ajuda a lidar com o medo e a ansiedade, reforçando sua resistência física e emocional.


7 de abr. de 2012

1° Encontro Projeto Ciranda Grávida 2012

Depois de um recesso que se estendeu mais do que o esperado, o Projeto Ciranda Grávida retorna com sua 2° Edição. A 1° Edição foi realizada durante o 2° semestre de 2011 e semeou sementes prósperas no coração de algumas mulheres (para saber mais do que já aconteceu, acessem: http://redematernidadeativa.blogspot.com.br/p/historico-ciranda-gravida-20112.html). No sábado 31.03 já sentimos um pouco destas sementes plantadas, com a presença de pessoas tão diversas que encheram a sala 13 do Instituto Social Íris e nossos corações com mais e mais Ramas de esperança e vontade de mudança.

Mulheres-mães paridas, mulheres-mães em gestação (também de si mesmas), homens-pais na espera do renascer, crianças nos ventres e no centro da sala - caldeirão sagrado!

Este ano estamos com nova dinâmica em nossas cirandas, com o encontro durando todo o dia (para saber mais, acessem:  http://redematernidadeativa.blogspot.com.br/p/ciranda-gravida-2012.html), e mesmo o tema do dia sendo "A Concepção e a Gestação da Vida", durante a manhã a discussão permeou por vários assuntos, no intuito de sanar dúvidas e questionamentos dos presentes. Relatos de partos, histórias de vida e experiências de casos particulares dos presentes foram partilhados no centro da roda, nos aproximando e permitindo que que o elo de confiança fosse iniciado. Além disto, esclarecimentos iniciais sobre o quadro obstétrico no Brasil e em Natal especificamente foram feitos, sendo que teremos um encontro específico pra aprofundar estes temas. 

Cenário-altar

À tarde tivemos pela primeira vez o Momento A.M.A. (Arte é Meditação para o Auto-Conhecimento). Criado com o intuito de trazer novas leituras para a gravidez e o parto, o Momento A.M.A. utiliza-se da arte como ferramenta para acessar lugares sagrados escondidos  dentro de nós . Iniciamos com uma Visualização Guiada para entrar em contato com nossas ancestrais e a sabedoria existente em nosso corpo como memória celular. A partir das paisagens que foram acessadas e compartilhadas por cada um no grupo, e de um cenário-altar já existente na sala, iniciamos uma reflexão sobre as paisagens que nos habitam como fontes de poder, onde residem nossos potenciais e intenções para ação, bem como nossas memórias que se manifestam através de símbolos. 
Símbolos e intenções

O tema do dia "A Concepção e a Gestação da Vida" foi trazido para ser adicionado ao caldeirão. Utilizando sementes e pedaços de papel em branco, fizemos um paralelo entre concepção e a gestação da vida e tais sementes de intenção. 
Intenções para ação!
- Estávamos presentes em intenções durante a concepção dos bebês que carregamos nos ventres? 
- E sobre nossas próprias concepções e gestações, o quê sabemos sobre elas? 
- Qual a importância de resgatar nossa história enquanto filha no escrever de uma  nova história enquanto mãe? 

Sementes, cores e símbolos do inconsciente.

Para finalizar, pedimos que cada pessoa presente expressasse através da pintura o quê o mais íntimo de si estivesse querendo dizer a partir das reflexões feitas no grupo. Foi um momento mágico deixar a vida ser através de tinta e pincéis e compartilhar com sorrisos e lágrimas o quê emana do poço sagrado que nos habita. 

De dentro pra fora, de fora pra dentro. 

Agradecemos à todos, presentes ou não, que de alguma forma apoiam e plantam sementes de intenções dia-a-dia, iniciando micro-revoluções tão essenciais para a mudança de paradigma necessária e urgente em tantos aspectos da vida. Agradecemos à Vida em si e às nossas ancestrais, mulheres de garra e força que foram, são e sempre serão presentes em nossos corpos, desde de nossos ventres, mãos e corações. Vocês estavam conosco naquela tarde de sábado tão mágica e transformadora! Até a próxima Ciranda Grávida!